quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Por que as intranets valem a pena?

(Entrevista especial com Ricardo Saldanha)

Presidente do Instituto Intranet Portal, Ricardo Saldanha fala sobre o gerenciamento de redes internas em empresas e da importância da troca de informações e conhecimento por funcionários.


O especialista em intranets e portais corporativos Ricardo Saldanha é um dos pioneiros nesse nicho no mercado brasileiro. Atua desde 1999 no setor e pode ser considerado um dos grandes responsáveis (se não o principal) pela disseminação dessa cultura em empresas do todo o país.

Além de trabalhar como consultor e palestrante, e ter desenvolvido projetos em clientes como Toyota, Light, ONS e Sistema CCR, Saldanha preside o Instituto Intranet Portal, entidade cujo objetivo é profissionalizar esse mercado no Brasil.

Nesta entrevista para o portal HSM Online, ele fala sobre o estágio das intranets no país, destaca a importância desse tipo de ferramenta para o desenvolvimento de empresas e seus funcionários.

Como está o nível das intranets e portais corporativos no Brasil?

Costumo dizer que este segmento está na puberdade: já não é um bebê imaturo, mas também não chegou ao amadurecimento pleno. Como todo adolescente, precisa de orientação e boas referências do grupo para encontrar seus caminhos – e é isso que procuramos fazer com o Prêmio Intranet Portal. Analisando o perfil dos casos submetidos à disputa em 2008 e 2009, fica evidente também uma falta de homogeneidade. Há intranets e portais corporativos avançados, que nos mostram boas práticas, ao lado de ambientes de primeira geração. Mais um motivo para nos orgulharmos do Prêmio, que funciona como um farol, ao estimular e acelerar o amadurecimento e a evolução de todos os portais do país.

Você acredita que essas ferramentas já se tornaram estratégicas para a operação da maioria das corporações?

Na prática, apenas uma minoria das empresas já entendeu toda a potencialidade dessas ferramentas, mas isso está mudando rapidamente. O Instituto Intranet Portal (www.intranetportal.org.br) e, mais uma vez, o Prêmio, não deixam de ser prova disso, pois estão atraindo grande interesse. Isso só mostra que há uma série de demandas reprimidas, típicas dessa nova era, que são atendidas por portais corporativos avançados.

Dá para comparar o estágio atual dos portais corporativos daqui com o patamar mundial?

Se pensarmos em casos de ponta, avançados, há pouca diferença. Compare, por exemplo, o caso da British Telecom, reconhecidamente de vanguarda, com o da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, vencedor do nosso Grand Prix de 2008: ambos são fonte de muita inspiração para o mercado mundial. Outra fonte de comparação são as pesquisas que realizamos aqui com as conduzidas em nível mundial. Este ano, o Instituto está apoiando a Global Intranet Survey, conduzida por Jane McConnell, e, com isso, tivemos acesso aos resultados de 2008. Não é preciso muito esforço para notar que intranets e portais corporativos são soluções complexas e recentes, o que gera barreiras muito similares aqui e lá fora. Por outro lado, parece-nos que há um pouco mais de homogeneidade lá fora, se olharmos o conjunto do mercado.

Quais são as características fundamentais para um portal corporativo?

Três grandes desafios desse novo século são endereçados por portais avançados: fácil acesso a conteúdos, aproximação dos talentos via colaboração, e integração com sistemas legados. Um portal que orquestra conteúdo, colaboração e integração de forma inteligente e sinérgica agrega muito valor ao negócio. Focar nesses três pilares constitui um passo importante para o sucesso.

É possível medir o retorno sobre o investimento nessas ferramentas? Como fazer isso?

Sim, embora não seja trivial. Primeiro, porque os maiores ganhos estão em aspectos intangíveis, como o aumento da inteligência organizacional, na medida em que joga um papel fundamental na gestão da informação e do conhecimento. Segundo, porque se trata de uma "ferramenta-meio", que contribui para ganhos em processos finais – e não é fácil identificar que parcela do ganho adveio do portal ou de outras ações de melhoria. Por outro lado, se consolidarmos métricas de negócio com métricas técnicas e se aliarmos análises quantitativas a uma visão qualitativa, é perfeitamente possível comprovar ganhos.

Um dos principais conceitos que o Instituto Intranet Portal difunde no Brasil é o de Enterprise 2.0. O que é e por que é estratégico para as empresas?

O conceito de Enterprise 2.0 é bem recente e nasceu na esteira do conceito de Web 2.0. Como todo termo novo, leva a diversas interpretações – desde aquele bem funcional, que associa o conceito à utilização de wikis, blogs e afins, até ideias bem amplas, que pregam a completa reformulação organizacional, para o surgimento de uma nova empresa, mais colaborativa, adaptativa e inteligente. Nesse momento, o mais importante é vencer a visão meramente funcional, lembrando que qualquer ferramenta só tem sua razão de existir no momento em da sua aplicação. Muitas empresas querem ter um wiki, porque isso está na moda, mas o importante é entender para que serve um wiki (que é ótimo para certas coisas e péssimo para outras...) e aplicá-lo no contexto do negócio. Logo, não basta pensar em ter um blog – mas sim em refletir: "blog pra quê?" De certa forma, é o mesmo que já aconteceu com intranets e portais corporativos como um todo: no início, eram vistas como "coisa de TI". O amadurecimento leva a uma visão mais sistêmica e de tecnologia aplicada, onde o principal é o valor agregado para o negócio (e não o portal em si).

Como está sendo o nível de utilização das redes sociais internamente nas corporações?

Elas se inserem no contexto da Enterprise 2.0 e podem ser vistas como o ponto máximo da colaboração. Se olharmos, por exemplo, a pontuação atribuída pelos jurados do Prêmio Intranet Portal nos três quesitos avaliados (Conteúdo, Integração em TI e Colaboração), notamos que as notas de colaboração são sempre as mais baixas. Isso significa que ela é “a última fronteira”, representando a aplicação mais nova (e inovadora) de todas. Por conta disso tudo, o uso ainda é incipiente. Mas evoluirá rapidamente, pois os ganhos são inequívocos.

Podemos afirmar que as redes sociais aproximam os funcionários e melhora a comunicação interna?

Sim, mas não apenas isso. Contribuem fortemente para a localização de conteúdos relevantes e de talentos. Meu filtro e minha navegação podem passar a ser guiadas pelo que meus colegas sinalizam, permitindo que se estabeleça uma relevância pelo uso e reuso. Em outras palavras, é o grupo que passa a separar o joio do trigo, contribui para diminuir a overdose de informação e gera produtividade para o trabalhador do conhecimento.

Qual a importância dos gestores incentivarem o compartilhamento de informações internamente para agilizar a gestão de atividades?

A gestão de informação e conhecimento precisa ser vista como parte inerente – e importantíssima – dos processos de negócio. Se o gestor tiver essa compreensão, nunca poderá considerar desperdício de tempo a publicação de um post sobre o andamento do projeto no blog daquele time ou a indicação de um site com conteúdo relevante para os colegas. Se não for assim – e ainda acontece muito –, há a tendência de se desvalorizar essas atividades. Além disso, uma das maiores resistências em colaborar vem do medo de errar e de se expor. Portanto, criar uma cultura e um clima favorável à experimentação é crucial e os gestores jogam um papel fundamental nisso.

É possível que qualquer funcionário crie conteúdo ou deve haver algum tipo de centralização?

Em geral, as empresas são ambientes regulados e hierárquicos. Isso faz com que a lógica em rede, que pede descentralização para funcionar plenamente, possa gerar conflitos com o modelo mental da organização. Mas é preciso lembrar que, dependendo do setor de atividade e da cultura organizacional, esse atrito pode ser maior ou menor. A boa notícia é que intranets e portais corporativos são ferramentas tão fantásticas e flexíveis que é possível ficar com o melhor dos dois mundos: descentralizar sem levar à anarquia. Basta substituir a ideia de “controle” pelo conceito de “orquestração” para que as coisas melhorem bastante. Outro ponto importante é estipular uma governança, definindo papéis e responsabilidades. O que não se concebe é uma centralização excessiva: isso asfixia a rede e vai contra o seu DNA.

Outro fator importante é a terceirização de atividades. O que pode ser terceirizado e quais as dicas para controlar os fornecedores?

Se pensarmos em situações de projeto, praticamente tudo pode ser terceirizado, seja a modelagem, o desenvolvimento ou a plataforma. Há fornecedores de qualidade em cada um desses segmentos, mas é sempre importante formar um time único de projeto, unindo fornecedor e equipe interna, para maior sinergia e transferência de conhecimento. Isso é importante porque esses ambientes são organismos vivos e, por isso, é preciso sempre pensar no seu crescimento sustentável. Isso também implica a necessidade de uma série de atividades regulares de manutenção e evolução, onde também existem oportunidades de terceirização (desde conteúdo até desenvolvimento de novas funcionalidades ou mesmo produção de peças complementares, como banners). O importante é definir um contrato de nível de serviço (o famoso SLA) objetivo e claro, especificando as regras que orientarão o trabalho.

Sobre o Prêmio Intranet Portal, que está em sua segunda edição, cresceu o número de participantes em relação ao ano anterior? E o nível das inscrições também ficou mais elevado?

O Prêmio cresceu muito. Agora é uma Iniciativa do Instituto Intranet Portal e uma co-realização do Senac-SP. Ele cresceu em tamanho e também no nível dos concorrentes: este ano temos 50% a mais de concorrentes e as notas dos jurados, na média, foram mais altas do que as de 2008. Estamos muito satisfeitos com os resultados e divulgaremos os vencedores ao longo de setembro, preparando um evento de alto nível para os dias 12 e 13 de novembro – as inscrições, inclusive, já estão abertas, no site www.premiointranetportal.com.br. O evento é parte do esforço de fazer com que o prêmio vá muito além da mera distribuição de estatuetas. Reconhecer os melhores é importante, mas mais importante ainda é disseminar as boas práticas. É por isso que teremos também um livro coletânea a cada ano. E é por isso que todos os concorrentes recebem, ganhem ou não troféu, um relatório defeedback dos jurados, com pontos fortes e fracos.

Para a edição deste ano, quais serão os fatores fundamentais para que um portal corporativo ou intranet ganhe os prêmios?

Nós temos um processo muito rico e rigoroso, que começa com a validação de critérios técnicos de avaliação pelo Conselho Consultivo do Instituto. Eles estão agrupados em três pilares: Conteúdo, Integração em TI e Colaboração. Mas um diferencial do Prêmio Intranet Portal frente a outros prêmios mundo afora é seu foco em negócios. Ou seja: além de boas práticas técnicas, pesa muito o quanto o ambiente agrega valor ao negócio. Isso significa que temos também quesitos de resultados e demonstrar essa inserção nos processos e a contribuição para a competitividade da organização são elementos fundamentais para os casos pontuarem bem.

Extraída de HSM Online de 11/09/2009.

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