Pesquisa de tendências traça o perfil do consumidor em tempos de crise
A maioria dos 614 entrevistados – entre homens e mulheres das classes A e B – se mostrou preocupada em consumir menos e de forma mais consciente, mas boa parte ainda parece confusa em relação às mudanças que se definem. Quase todos os entrevistados (92%) consideraram que produtos como roupas deveriam ter um ciclo de vida mais longo, mas 34% também afirmaram querer moda e tendências.
Os resultados apresentam um senso comum de que o consumo exagerado é o responsável pela crise, o que acentua o quadro de infidelidade do cliente. O consumidor passa a pesquisar mais para comprar melhor e não hesita em trocar de marca caso encontre algum produto similar com preço inferior na concorrência. A exceção seria o mercado de luxo, em que há maior grau de fidelidade em relação às marcas.
Povo otimista por natureza, o brasileiro encara a crise de maneira menos pessimista que em outros países, principalmente os desenvolvidos. Acontecimentos da primeira década do século XXI, como a queda das Torres Gêmeas, levaram as pessoas a pensarem no futuro de forma negativa. O que não acontece entre os consumidores daqui.
“Cada vez mais temos exemplos de que os valores do brasileiro estão se diferenciando. O Brasil adquire contornos próprios como nação, economia, cultura. Temos de olhar de um ponto de vista local para entender as coisas. Além do mais, o brasileiro está ‘descolado’ em crises, acostumado a lidar com situações complicadas”, observa Caldas em entrevista ao Mundo do Marketing.
Já no caso das classes A e B – foco da pesquisa – a crise veio para incentivar uma revisão de valores. Como este grupo tem hábitos de consumo mais estabelecidos, está mais disposto a repensar conceitos ligados à crise global. Dos entrevistados, 88% identificaram a ganância como causa da crise, enquanto 57% concordaram que o consumismo é parte dela.
Por outro lado, não se pode ignorar que cerca de um quarto dos consumidores não associaram o consumo em excesso aos problemas econômicos atuais. Mas 57% dos entrevistados discordaram que consumir mais seja uma forma de combater os efeitos da crise na economia, ao contrário do que afirma o Governo.
Para Caldas, do ODES, a crise funciona como um “acelerador” das mudanças que já se desenhavam. Mesmo que ainda haja uma parcela que não associa o consumismo ao aquecimento global (13% de homens e 10% de mulheres), os valores da educação ambiental já são compartilhados pela maioria e a tendência é que este número aumente com o tempo.
São observadas mudanças desde o comportamento mais rudimentar, daquele indivíduo que não joga mais papel no chão, aos relatos de quem se preocupa com todos os aspectos da sustentabilidade e os divulga para os conhecidos. “A grande vilã contemporânea é a sacola plástica. As classes A e B já entenderam isso. Vemos a classe C perceber este problema e observamos as grandes redes de supermercados incentivando o uso da ecobag”, explica o sociólogo.
“Não basta que a empresa diga que recicla o lixo, se ela continua dando vazão a produtos não-sustentáveis. O consumidor tende a perceber isso como contradição, um anti-marketing”, explica o sociólogo. O momento atual é de passagem e não há mais espaço para a sustentabilidade de mentira. “E é o apelo do consumidor consciente que vai remodelar o mercado (depois da crise)”, conclui.
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