No último ano, 49% das famílias paulistanas estavam endividadas e 64% acreditam que estarão melhores financeiramente nos próximos meses
O acesso das classes da baixa renda ao mercado possibilitou que estas famílias consumissem mais. Consequentemente, o grau de endividamento entre estes consumidores aumentou. A novidade é que eles não pretendem parar de comprar. No último ano, o nível de endividamento das famílias paulistanas que recebem até três salários mínimos foi de 49%, segundo uma pesquisa realizada pela Fecomercio.
No entanto, de acordo com a mesma pesquisa, apenas 8% destas famílias declararam que não teriam condições de quitar suas dívidas. Para ter acesso a bens duráveis, estes consumidores recorrem aos financiamentos e acumulam parcelas em crediários, cheques, cartões de crédito, entre outros.
“O fato de acumularem uma dívida não é algo ruim. O alargamento do número de parcelas é a maneira que eles encontram para terem acesso ao mercado de consumo, por isso a taxa de endividamento cresce”, explica Adelaide Reis (foto), economista da Fecomercio, em entrevista ao Mundo do Marketing.
De acordo com uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), dos consumidores de baixa renda entrevistados, 73,5% desconhecem o valor da taxa de juros. “Em todas as classes, existe uma divisão entre altamente endividados, mediamente e os que têm menos dívidas. Os que são altamente endividados conhecem menos as taxas de juros, fazem compras com menor consciência, não controlam os seus gastos e, com isso, atrasam mais os pagamentos”, ressalta Sandra Turchi, superintendente de Marketing da ACSP.
Nas classes da base da pirâmide isto se agrava, pois estes consumidores têm menos renda. Segundo a Fecomercio, em 2009, 21% dessas famílias tinham contas em atraso. Entre os principais meios de financiamento destacam-se o cartão de crédito, com 66,36%, e os carnês de crediário, com 42,99%. Os produtos mais procurados são bens duráveis como eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis, seguidos de vestuário.
Mas engana-se quem acredita que os consumidores da base da pirâmide priorizam as marcas conhecidas e o status que elas oferecem. Segundo o estudo da ACSP, apenas 21% dos entrevistados das classes de baixa renda se dizem preocupados em obter produtos de marcas consagradas.
“Eles esperam um bom custo-benefício, preocupam-se bastante com a qualidade. Estas pessoas querem consumir coisas boas e o crédito foi o que ajudou a democratizar o acesso a esses produtos”, comenta Sandra Turchi, superintendente de Marketing da Associação Comercial de São Paulo e articulista do Mundo do Marketing, em entrevista ao site.
Por isso, mesmo tendo dinheiro para comprar um determinado produto à vista, estes consumidores optam pelo financiamento para adquirirem um item mais caro, porém, de melhor qualidade. “Eles não podem correr o risco de comprar um produto que possivelmente dará algum defeito três meses depois”, complementa a superintendente de Marketing da ACSP.
A confiança nos produtos que já foram testados acaba gerando uma relação de fidelidade. Uma fidelidade que não se refere ao status da marca, mas sim a sua qualidade. Como o consumo de bens mais caros depende do financiamento, estes consumidores normalmente não conhecem as taxas de juros aplicadas pelas empresas.
Em todas as classes, 53% dos entrevistados pela ACSP relataram que ainda compram por impulso. Se pudessem, 71% dos consumidores de baixa renda comprariam à vista. A compra a prazo acontece por uma necessidade. “Eles dão preferência ao menor número de parcelas possível, mas uma coisa é a preferência e outra é a possibilidade real. Na prática, depende do orçamento”, pondera Sandra.
Para este ano, a expectativa é de que o consumo continue aquecido. “O consumidor de baixa renda ainda procurará modalidades que adiantem o consumo, como crediário, cartões de lojas, débito ou crédito, tanto no varejo, quanto nas instituições financeiras”, acredita o especialista da ESPM SP, Mateus Ponchio.
Adelaide faz referência ao aumento de apenas 0,4% no nível de inadimplência em 2009, comparado com o ano anterior. No último ano, o grau de consumidores sem condições de quitar suas dívidas foi de 6,5%. No entanto, de outubro a dezembro de 2009 observou-se uma redução na inadimplência em relação ao mesmo período de 2008. Em dezembro passado, o volume de cancelamento de registros no SCPC foi maior que o de inclusões, gerando uma taxa de inadimplência de 0,4%, contra 3,6% no mesmo mês de 2008, como indica a Associação Comercial de São Paulo.
Para este ano, as perspectivas continuam otimistas. O levantamento da ACSP indica que 57% dos consumidores de baixa renda alegam que a situação econômica está melhor hoje do que há um ano. Além disso, 64% acreditam que estarão melhores financeiramente nos próximos meses.
A boa expectativa em relação a 2010 também abre oportunidades para outros canais pouco explorados entre os consumidores das classes da base da pirâmide. É o caso do e-commerce. Apenas 24,5% destes consumidores da cidade de São Paulo possuem computador ligado à internet em casa. No entanto, eles cultivam cada vez mais o hábito de acessar a rede, seja em lan houses, no trabalho ou na casa de parentes e amigos.
O baixo grau de consumidores da base da pirâmide que já efetuaram compras na web (7,1%) demonstra que o canal ainda tem muito espaço para crescer entre este público. Prática muito recente ainda no cotidiano destas famílias que acabaram de entrar no mercado de consumo, o e-commerce tem três principais desafios.
O primeiro é a desconfiança que estes consumidores têm de comprar pela internet. Dos pesquisados pela ACSP, 51% acham que consumir virtualmente não é seguro. Isso impede que eles informem seus dados na rede, além da preocupação de que o produto não chegue de acordo com o esperado. Outra limitação refere-se à vontade que este público tem de ver o produto e manuseá-lo. Os consumidores de baixa renda entendem a saída para as compras como um lazer. O terceiro é a falta de meios para pagamento parcelado na internet, já que muitos não têm cartão de crédito.
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